Falta-me um dedo em cada mão
e uma mão em cada braço
Não tenho um gesto acabado…
Às vezes falta-me espaço
na cara para sorrir
Tudo em mim se incompleta,
tudo é tão velho e tão novo
Falta-me a força discreta
da geometria de um ovo
Mas falta-me um dedo em cada mão
e uma mão em cada braço…
Até me falta o cansaço
das dores que a terra tem…
O coração não tem espaço
para tanto, minha mãe
Resta-me ainda esta crença
que sou obra e criador
e não é muita a diferença
entre iguais na mesma dor
Que cada qual é senhor
do sangue das próprias veias
e hão-de florir alcateias
no ventre da própria dor
Falta-me um dedo em cada mão
e uma mão em cada braço
Não tenho um gesto acabado…
Mas os dentes estão em guarda
com um cravo e um manifesto
Um dia, só porque sim,
hei-de acabar o meu gesto
com um fado e uma espingarda
Levá-lo até fim!
E se eu não Mudar de Vida
que a vida me mude a mim!
*Após o espectáculo Mudar de Vida de José Mário Branco
6 comentários:
A Dignidade é composta de Beleza e Força!
gostei muito
maria de são pedro
não falta nada, está aí tudo, Mestre. ou não fossem as nossas pequenas grandes dores as dores do mundo.
Nunca foi tão oportuno este mudar de vida!
E eu fico sem palavras ao ler-te...forte o teu poema! Adorei. Beijos.
E se eu não mudar de vida
que a vida me mude a mim!
Amem poeta!
Descobri-te no blog da Glória.
Parabéns e Abraços
Rossana
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