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quarta-feira, 20 de abril de 2011

ANA MOURA E CAMANÉ

Porque te vestes de preto
Que dor é que te habitua
Quando dobras o gaveto
Ao cimo da minha rua

Que sina escondes no peito
Guardada num xaile antigo
Se é o fado que eu suspeito
Guarda-me a sina contigo

Eu nunca vesti de luto
Este vestido é o fruto
Do que a vida me tem dado
Deu-me o negro do queixume
A escuridão do ciúme
E eu pago com a luz do fado

Até a vida sombria
Deve ter uma estrela guia
Olho o céu e não a vejo
Mas as vidas são vielas
E ao descermos por elas
Vamos sempre dar ao Tejo

Não tenhas dó de nós, não vale a pena
Nenhum se vai esquecer, não tenhas medo
A lágrima perdida é tão pequena
Ao pé do que lembramos em segredo

Não quero, já te disse que não quero
Voltar àquele tempo que foi nosso
Às vezes minto quando sou sincero
É quando quero aquilo que não posso

Foste sincero
Quando te ouvi
Que não podias
Ainda te espero
Porque senti
Que me mentias

Quem nos ditou
Quem nos destina
O fim da estrada
Foi deus que errou
A nossa sina
Foi mal traçada

Disseste adeus
E bateste a porta devagar
Para ninguém notar
Que a vida nos traía
Disseste adeus
Ainda vi que tu sorriste
Vi no teu sorriso triste
Meu amor, até um dia

1 comentário:

anamarta disse...

Grandes Vozes! Grande Poema!
Obrigada pela partilha.
Um beijo