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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

6 LISNAVE

Quando O Dia Mais Bonito se deu, já eu conhecia como as minhas mãos as miudezas dos graneleiros. O capacete, forrado de autocolantes, se dizia o que me ia por fora, melhor dizia o que me ia lá dentro. Mas do resto sabia pouco… Eu sabia lá o que eram muamba, rojões, cachupa, chanfana… Era o bicho mais ignorante que Deus deu à terra.
À hora de almoço, cada marmita era um livro.

Na barriga dos navios, debaixo do barulho dos quintos dos infernos, havia gente de toda a parte. Nem põem na vossa ideia o barulho que faz decapar um barco, arrancar-lhe a pele do lombo. Quando se tosquia um navio, ele também chora. Fiquem sabendo!

Nos dias mais alegres, um copinho com os companheiros nas tascas de Cacilhas; nos dias mais tristes, bandeiras negras no portão.
De vez em quando, tudo a caminho de Lisboa a dizer das nossas razões.
Havia um de Baleizão que tratava das coisas e arrebanhava o pessoal. Bom moço e cantava bem…
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Há homens de toda a sorte
Com sonhos e desenganos
Homens do Sul e do Norte
E também há Africanos

Cada qual seus apetrechos
Todos de azul são fardados
Aprendem os novos eixos
Outra raça de soldados

Quando toca a campainha
Está na hora do avio
Comi caril de galinha
Dei o caldo de safio

Os barcos de todo o mundo
Chegam doentes, idosos
Depois de uma volta a fundo
Partem muito mais vistosos

Os nossos representantes
Dizem com muito calor
Se não somos almirantes
Temos o nosso valor

Eu que nunca vi o mar
Nunca lhe senti o frio
Ando agora a remendar
A barriga de um navio
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Música: João Gil

1 comentário:

San disse...

Fabuloso, Mestre.

já anexei aos recursos para o 9º ano ;)