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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

AMIGO PONTUAL*

isso não se faz, caralho!
bem sei que não gostas de palavrões
nunca te ouvi um sequer…
mas não tenho outra forma de o dizer.
é o que digo à rosa que pica
e à mulher que se vai
mas aquela, porque é rosa, fica
e a mulher, porque é mulher, não sai

tu vais-te embora a meio de um copo?!
eu fico pobre e deserto
como a rosa que pecou e a sombra de uma mulher…
eu sei que o véu que te cobre
já foi de um anjo qualquer

nada disso me consola
não gosto de falsos finais a sós.
os amigos pontuais
só partem depois de nós

deixas-me especado à porta
com meia garrafa e meia conversa à espera
que alguém me venha buscar.
eu sei que a puta da fera não tarda
há-de passar

e acabaremos o tinto que sobrou
e a conversa que deixámos a meio…
mas vou dizer-te o que sinto
nem que espere a eternidade
isso não se faz, caralho!
irrita-me a falta de pontualidade!

*ao Américo

8 comentários:

cesariom disse...

Obrigado Monge!
Vou guardar este teu poema com muito cuidado e carinho. E com a mesma raiva.
É de facto com muita saudade que se recorda um amigo de corpo inteiro.
Todas as vezes que entro naquela sala, sabes qual, me lembro do nosso amigo e, para mim, só para mim, lhe agradeço ter-me permitido fazer parte do seu núcleo de amigos. Muitas horas de trabalho partilhámos, enquanto par pedagógico, daqueles pares em que não é preciso falarmos para nos entendermos. Tu sabes.
Obrigado.
Um grande abraço
Mário Cesário

Paula Raposo disse...

Uma homenagem perfeita! Faço minhas as tuas palavras. Um grande amigo também me pregou uma partida dessas. Embora eu sinta que de onde se encontra, ele ainda sabe de mim...beijos.

San disse...

nunca conseguirei perceber porque é que aqueles que me fizeram melhor do que sou me deixaram aqui, meio à espera. não conheci o Américo a não ser através de ti. mas podia sentar todos os meus ausentes com vocês, à mesma mesa, e escreverias as mesmas ou outras palavras, entre libações, intermináveis histórias e promessas e muitas gargalhadas.

Anónimo disse...

Junto o meu copo de tinto,
Ao de quantos esperam "passagem"
Para o que ficou por dizer.
Junto também o que sinto,
Às palavras de homenagem
Dos que ficaram a perder.

Muito obrigada ao Américo pela recordação que permite.
Muito obrigada ao João pelas palavras que oferece.

peciscas disse...

Há por aí muita gente, que merece aqueles palavrões que soltamos quando estamos mesmo a ferver.
A propósito (e desculpa a extensão...) deixo aqui um texto do Millor Fernandes (deves conhecer)

Foda-se!

Millor Fernandes
(adaptado)
1
O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à
quantidade de "foda-se!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?
O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma
pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"
"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,
foda-se!"
O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos
extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário
de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos
mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua
língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que
vingará plenamente um dia.
"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a
ideia de muita quantidade que "comó caralho"?
"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão
matemática.
2
A Via Láctea tem estrelas comó caralho!
O Sol está quente comó caralho!
O universo é antigo comó caralho!
Eu gosto do meu clube comó caralho!
O gajo é parvo comó caralho!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a
mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem
nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades
de maior interesse na tua vida.
Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro
para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro
Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,
e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu
correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,
sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito
assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se
reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um
merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua
maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus
quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de
seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do cu!"?
3
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar
firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado
amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de
maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a
sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".
Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para
uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de
ameaçadora complicação?
Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor
num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo
assim como quando estás a sem documentos do carro, sem
carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a
mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada
funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a
saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os
empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e
em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a
desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
foda-se!!!
Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”
Atente no que lhe digo!

Anónimo disse...

Obrigada João
Pelas palavras sempre perfeitas, que encontras no teu cantinho para dedicares aos bons e amigos, pois são muitas, as vezes que recordo com muito carinho o nosso amigo, que está sempre presente nos nossos corações.
Bjinho
Leonor

Anónimo disse...

"Porque não sei dizer-te o que sinto" digo tão somente :Parabéns João Monge!
Os "Amigos pontuais só partem depois de nós"...é por isso que continuo a senti-LO aqui...junto de nós, gracejando, falando, computadorizando...

Anónimo disse...

João monge estou de empréstimo.
Ainda assim não resisti e dei mum salto ao teu sítio.
De fugida, pé-ante-pé, com medo de ser apanhada no exercício da escuta clandestina.
E fui!
Por ti, pelo Américo, pela emoção.

Antes que me atrase, um abraço forte daqueles que até magoam