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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

4 O DIA DO NÓ

Havia linguiças de Ficalho, paio de Aldeia Nova e presunto de Barrancos. A ti’ Júlia tinha feito tudo quanto era bolos: pupias, bacia de mel, suspiros… Eu sei lá… Dia de casamento era dia de fartura. Matámos dois borregos e nem as cabeças escaparam. O vinho era de Pias e havia gasosas para os rapazes.
O padre, que tinha passado a missa dizendo que o amor era como o vinho (quanto mais antigo, melhor), depois de provar o vinho (que de amor provava pouco), atirou-se à canja de galinha do campo com tanta força que cheguei a pensar que se afogava. Garganeiro, mas boa pessoa…!
O Pintinhas, que Deus tem, apanhou uma “cadela” maior que a Serra Alta. Como era seu costume foi para a rua gritar contra o regime mas a Guarda não o prendeu.
Era um dia de festa e eu beijei a Laurinda à frente do povo todo!
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Era quase meio-dia
“A noiva está a chegar”
O padre com bonomia
Faz sinal à galeria
A função vai começar

O povo pôs-se em sentido
Nós à frente lado a lado
Estava tudo bem vestido
Ela de branco e comprido
Eu com um fato riscado

O sermão chegou ao fim
Alianças com o nome
Quando gastou o latim
Dissemos os dois que sim
Já estava tudo com fome

Nos retratos com fogacho
À saída da Igreja
Os chegados mais em baixo
Os outros ficam em cacho
Isto tudo salvo-seja

Está na hora do cortejo
Também tem os seus preceitos
As mulheres mandam um beijo
Os homens lembram desejo
Todos atiram confeitos

Com ervas que nem eu sei
Os comeres são temperados
Parece a mesa de um rei
E antes que o vinho almareie
Canta-se aos recém-casados
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Música: João Gil

1 comentário:

San disse...

antes nó, agora evento, é impossível não sentir a nostalgia da festa que se perdeu... e que tu tão bem evocas!