Eu hei-de voltar
Ao sol das macieiras,
A partilhar os rios e o mar,
A unir as pedras,
Ao tempo das sementeiras
Espera por mim. Eu hei-de voltar.
Eu hei-de voltar
Depois das baionetas,
Na barca de um milhão de Noés,
Na luz dos cometas,
Do ventre das chaminés.
Espera por mim. Eu hei-de voltar.
Terra.
Ida.
Guerra.
Vida. Vida. Vida!
Ainda não tinha 10 anos e doíam-lhe os dentes.
A cadência tortuosa dos carris e os golpes de chicote do lombo da serpente nem sequer lhe permitiam chorar em paz. Edite, a irmã mais velha, cantava-lhe uma canção que falava de cometas e de uma barca voadora.
Adormeceram de mãos dadas no chão do comboio.
Os pais, encafuados numa carruagem para adultos, apertados como animais e com as veias tensas como os bordões de um piano, adivinhavam através das frestas a geografia dos seus próprios limites.
Eu hei-de voltar
Na memória dos heróis.
Terra.
Ida.
Guerra.
VIDA. VIDA. VIDA!
Música: Manuel Paulo
Ao sol das macieiras,
A partilhar os rios e o mar,
A unir as pedras,
Ao tempo das sementeiras
Espera por mim. Eu hei-de voltar.
Eu hei-de voltar
Depois das baionetas,
Na barca de um milhão de Noés,
Na luz dos cometas,
Do ventre das chaminés.
Espera por mim. Eu hei-de voltar.
Terra.
Ida.
Guerra.
Vida. Vida. Vida!
Ainda não tinha 10 anos e doíam-lhe os dentes.
A cadência tortuosa dos carris e os golpes de chicote do lombo da serpente nem sequer lhe permitiam chorar em paz. Edite, a irmã mais velha, cantava-lhe uma canção que falava de cometas e de uma barca voadora.
Adormeceram de mãos dadas no chão do comboio.
Os pais, encafuados numa carruagem para adultos, apertados como animais e com as veias tensas como os bordões de um piano, adivinhavam através das frestas a geografia dos seus próprios limites.
Eu hei-de voltar
Na memória dos heróis.
Terra.
Ida.
Guerra.
VIDA. VIDA. VIDA!
6 comentários:
fabuloso de intensidade!
aqui fiquei, parado, absorto, sem tempo, pensando.
( a foto era necessária?)
senti-me embalada através de tuas palvras. parte de um comboio de poesia delicada. os poetas de sentimentos intensos, têm suas mão dados e amanhecem! amei o que vi por aqui, vou te adicionar tá? bj
Estas palavras fizeram-me regressar aos passos atormentados com que percorri Auschwitz.
Ali, só ouvia o ranger da areia grossa, calcada pelos nossos pés, nas ruas por onde circulou o horror e a barbárie.
Ali repirava-se ainda a memória dos heróis, e as baionetas, as balas e os gazes assassinos dos seus verdugos nazis.
Nunca mais hei-de esquecer as emoções, o arrepio no corpo, dessa tarde em Auschwitz.
Para que nunca se esqueça, é imperioso e urgente continuar a cantar a denúncia.
Para que nunca se esqueça!
http://remember.org/jacobs/
MEU DEUS !!!!
Estou aqui, silenciosa, reverenciando o que acabo de ler.
Profundo, triste, muito triste, e EXTREMAMENTE belo.
Você é demaisssssssss.....
Sorte a minha poder passear por aqui.
Carinho,
Solange
http://eucaliptosnajanela.blogspot.com
Fotofixe
Cam., ainda hoje continuo um bocado perplexo com esta peça. Com, ou sem música, deixa-nos em silencio.
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