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segunda-feira, 13 de julho de 2009

CARTA DO FUNDO DO MAR

Olá, meu bem
não podia ficar sem
dizer tudo o que o mar tem
que me faz por cá ficar
Bate a saudade
mas para falar verdade
fico para a eternidade.
Escuta bem que eu vou contar:

Há futebol
aos Domingos no atol
peixes verdes, encarnados
e a solha do costume
e à semana
o suco da barbatana
é andarmos entrosados
no bailinho do cardume

Faz lá ideia
que num castelo de areia
uma sereia aprisionada
cantava triste à janela
Fui a caminho
no meu cavalo-marinho
armado de um peixe-espada
pra libertar a donzela

Nessa manhã
deixei de ser homem-rã
virei peixe-D'Artagnan
sou o maior do recife
A multidão
da sardinha ao tubarão
já me tratam por irmão
e fizeram uma manif

Pois é, meu bem
aqui o mar também tem
peixe que não tem vintém
e o polvo tem demais
Mas cá no fundo
isto é mesmo um outro mundo
até peixe-vagabundo
pode nadar nos corais

Adeus, meu bem
Escuta o búzio que te dei
Tem um beijo que deixei
para sempre em meu lugar
Põe no diário
que no teu aniversário
passo no teu aquário
na minha estrela-do-mar

Música: Ricardo Cruz

12 comentários:

Batom e poesias disse...

Que responsabilidade ser a primeira a comentar essa preciosidade absurdamente bela e surreal.

Que dizer mais, a não ser deixar-me encantar pela imaginação de um poeta marinho?

É o mundo mesmo circular, poeta!
bjs
Rossana

Batom e poesias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
San disse...

poesia submarina?

mariaivone disse...

Gosto desse fundo do mar!
Continua a mandar cartas, um dia destes visito-te

Mário Lopes disse...

Para nos deslumbrar, saiu de uma ostra uma pérola de poesia marinha trazida pelo João Monge do seu imaginativo fundo de coral. E como ele sabe nadar!

Lena disse...

Humm... 'tá-se bem, aí no fundo do mar...

Beijo.

peciscas disse...

Mas, afinal, também conheces os segredos do mar. As coisas que tu sabes, João!
Ser irmão desses seres todos que habitam as profundezas, é um privilégio de que poucos se podem gabar.
E só tu conseguirias rimar "recife" com "manif". Brilhante!

Cristina Fernandes disse...

Os sons dos búzios guardam o segredo de algumas palavras.
Cumpts,
Chris

Anónimo disse...

O fundo do teu mar é igual ao que vi na televisão, falta ar, é como escreveres amor sem teres a coragem de amar, a tua paixão serve bem uma canção mas está longe da apeneia da poesia de quem arrisca a sua sorte num mergulho, vê a morte e morre só.

Paula Raposo disse...

Eu gosto desse som dos búzios...beijinhos.

zoltrix disse...

os tipos que inventaram o Nemo deviam ter lido este teu poema antes de fazerem o "movie"....

...

abraços muitos
e inté

José Monge disse...

Excelente! Adorei: "Escuta o búzio que te dei
Tem um beijo que deixei
para sempre em meu lugar".