Esta noite sonhei com Almada Negreiros.
É estranho, as únicas imagens que dele vi eram a preto e branco e, no entanto, entrou-me pelo sonho adentro com as cores de todas as pétalas.
—Pai.
—Diz, meu amor.
—Dá-me papel e um lápis. Quero fazer um desenho.
—Está bem, meu amor.
Se calhar foi o filme de ontem à noite. Aquele actor tinha uns olhos enormes como mundos. O filme acabou tão tarde que não dei por ele acabar. Adormeci com aqueles olhos enormes na alma e, certamente, foram eles que lá colocaram as imagens do Almada. Certamente.
—Pai!
—Diz, meu amor.
—Não me ouviste?! Dá-me o papel mais branco que tiveres e o lápis mais macio. Quero fazer um desenho!
Já sei! Ontem, na esplanada do Central, estava de frente para mim um sujeito alto e seco, daqueles a quem não é difícil adivinhar nobreza. As suas mãos eram longas e espatuladas e a destreza com que manipulava o jornal aproximava-se de um bailado. Primeiro folheava-o com os grandes braços abertos, indiferente ao vento. Depois, com um pequeno toque subtil, dobrava-o a contragosto — estava escolhida a página — para finalmente o dobrar em quatro, vencido sobre a mesa. Indiferente ao vento.
—Estás a gostar do meu desenho?
—Sim, meu amor.
—Faço-o para ti.
Tenho dúvidas... No fim de contas, tudo não passa de relações idiotas para justificar o injustificável. Sonhei com Almada Negreiros e pronto. Não tem de haver nenhuma razão especial para que tal aconteça.
Esta nossa mania de reduzir a porquês tudo o que nos vai na alma, reduz-nos. É isso mesmo: reduz-nos.
Sonhei com Almada Negreiros e pronto. Assunto encerrado.
—Pai, acabei o meu desenho. Gostas?
—Tantas linhas, meu amor. Todas curvas e doces como uns olhos que sonhei. O que são?
—Uma flor!
É estranho, as únicas imagens que dele vi eram a preto e branco e, no entanto, entrou-me pelo sonho adentro com as cores de todas as pétalas.
—Pai.
—Diz, meu amor.
—Dá-me papel e um lápis. Quero fazer um desenho.
—Está bem, meu amor.
Se calhar foi o filme de ontem à noite. Aquele actor tinha uns olhos enormes como mundos. O filme acabou tão tarde que não dei por ele acabar. Adormeci com aqueles olhos enormes na alma e, certamente, foram eles que lá colocaram as imagens do Almada. Certamente.
—Pai!
—Diz, meu amor.
—Não me ouviste?! Dá-me o papel mais branco que tiveres e o lápis mais macio. Quero fazer um desenho!
Já sei! Ontem, na esplanada do Central, estava de frente para mim um sujeito alto e seco, daqueles a quem não é difícil adivinhar nobreza. As suas mãos eram longas e espatuladas e a destreza com que manipulava o jornal aproximava-se de um bailado. Primeiro folheava-o com os grandes braços abertos, indiferente ao vento. Depois, com um pequeno toque subtil, dobrava-o a contragosto — estava escolhida a página — para finalmente o dobrar em quatro, vencido sobre a mesa. Indiferente ao vento.
—Estás a gostar do meu desenho?
—Sim, meu amor.
—Faço-o para ti.
Tenho dúvidas... No fim de contas, tudo não passa de relações idiotas para justificar o injustificável. Sonhei com Almada Negreiros e pronto. Não tem de haver nenhuma razão especial para que tal aconteça.
Esta nossa mania de reduzir a porquês tudo o que nos vai na alma, reduz-nos. É isso mesmo: reduz-nos.
Sonhei com Almada Negreiros e pronto. Assunto encerrado.
—Pai, acabei o meu desenho. Gostas?
—Tantas linhas, meu amor. Todas curvas e doces como uns olhos que sonhei. O que são?
—Uma flor!
3 comentários:
belo e intemporal!
Que bom é sermos assim visitados em sonhos
João...
tenho pena do tanto que reduzimo-nos ao querer sempre explicações... tento, tento, tento, e até para querer não explicar, acabo explicando.
você é incrível... e tudo não passava de uma curva e doce flor...
você é incrível.
beijo
Meu Querido
LINDO ! LINDO ! LINDO !
Não resisti, fiz copy paste e ofereci-o a um "irmão" de infância no Facebook !
Não me digas que eu não podia ! ! ! . . . Já tá !
MIMOS INFINITOS
da tua
vandinha
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