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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O SEGREDO DO SOL

A noite caía, e com ela o seu peso nos olhos do menino.
Dirigiu-se ao quarto, vestiu o pijama de todas as aventuras e enfiou-se nos lençóis de bolinhas. Com a dobra puxada para cima da cabeça, para o sono não fugir, deixou-se ficar todo enroscado no interior do seu próprio casulo. Assim, pronto para tudo e quentinho do seu próprio bafo, adormeceu.
Dormia profundamente quando, vindo não se sabe de onde, um estranho barulho de raspar o inquietou. Lentamente, o barulho aproximou-se tanto que até parecia sair do seu próprio sono. Depois, o som de raspar transformou-se num estalido de batata-frita e de dentro do casulo rompeu uma borboleta.
Era grande como nenhuma e bonita de todas as cores.
Pousando uma das suas asas sobre o menino, disse-lhe baixinho ao ouvido:
— Anda menino. Senta-te no meu dorso e eu serei esta noite a tua guia voadora!
O menino assim fez.
A borboleta, depois de dar às asas duas vezes, para experimentar, abriu a janela do quarto e, com o menino de cavaleiro, lançou-se no céu da noite à aventura.


— Está escuro. — disse o menino. — Tenho medo da cor do céu. Não vejo nada.
A borboleta respondeu:
— Não tenhas medo, meu amigo. Espeta o teu dedo de apontar nos cantos mais escuros do céu e terás uma surpresa.
O menino, com o coração a passo com a curiosidade, obedeceu. Primeiro espetou o dedinho na massa escura para, logo de seguida, o retirar com o barulho de uma ventosa. E foi com aquela felicidade que só os meninos sabem colher das surpresas que viu nascer uma estrela.
— É linda, borboleta! E é tão bonito o som que faz. Leva-me a todos os cantos do céu para eu fazer mais estrelas.
E lá foram, rindo como os amigos devem rir, fazer todas as estrelas do céu.
E foi assim, que o escuro se alumiou e o silêncio se transformou na música das estrelas.


O céu cintilava como um bolo de aniversário.
Vendo que todas as estrelas estavam feitas, o menino perguntou:
— E agora, borboleta. Onde vamos?
— Estás a ver aquela estrela pequenina lá ao fundo? — perguntou a borboleta. — Aquela que nos acena? Chama-se Estrela Polar. Vamos ver onde nos leva.
As asas voltaram a bater ao passo da curiosidade do menino.
Voaram. Voaram. Até que por fim avistaram um planeta: uma grande bola sem luz perdida na imensidão.
Era um planeta castanho e sem vida. Tão triste que o menino teve vontade de chorar.
Não chores, meu amigo! — disse a borboleta. — Faz um buraquinho com o teu dedo, o dedo de fazer estrelas, na terra castanha e terás uma surpresa.
O menino, ainda com um carocinho na garganta, experimentou.
Os soluços deram lugar a gargalhadas de alegria: de cada buraquinho que o seu dedo fazia, rompia uma flor. Umas amarelas; outras azuis; umas com pintinhas vermelhas; outras às bolinhas como o lençol do menino. Cada uma fazendo um som diferente da outra a nascer. E o som das estrelas misturou-se com a música das flores.

A borboleta, ao ver o chão tapado de flores, deixou cair um ovinho junto ao pé de cada uma. Para assim, — disse ela — nunca mais faltar vida neste planeta e deixar para sempre de ser uma bola castanha.
Por fim, fez-se dia.
O Sol estendeu os seus braços e cada um deles aqueceu um ovo, dos muitos que a borboleta tinha deixado.
O menino começou a ouvir ao longe um estranho barulho de raspar. O ruído foi-se aproximando, até que culminou numa multidão de estalidos de pipocas. Eram milhões de bichinhos de dedo espetado fazendo buraquinhos para sair dos ovos.
E foi com o som de todos os ovos que o menino acordou.
A primeira coisa que fez, foi estender o braço para debaixo da cama e enfiar o dedo indicador — aquele que serve para fazer estrelas e flores — no buraquinho de uma caixa de papelão. Depois de a puxar para fora, colocou-a sobre o peito para ver melhor o seu interior.
Lá estavam eles. Os bichos-da-seda comendo as folhas frescas da manhã.

3 comentários:

DiDa disse...

Sonhar e acordar numa cama quentinha ao sol da manhã...

Está ternurento, como todos os contos em que as crianças partem e regressam num final feliz.

Peço perdão pela ousadia, mas... acabei de ler com um sorriso.

Anónimo disse...

Será que sinto uma "modernidade" no estalar das pipocas e das batatas fritas?
Um conto é infantil quando faz sorrir e sonhar os adultos?
A poesia desta tua aventura ultrapassa todas estas dúvidas académicas e faz crescer a vontade de voltar a sonhar. Que bonito!

MariaIvone disse...

Passei para desejar um Feliz Natal


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Beijos
MariaIvone