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domingo, 14 de dezembro de 2008

2 O CAÇADOR DA ADIÇA

Na Serra da Adiça havia cobras, lagartos, lacraus e bichos daninhos. Eu tinha mais medo daquilo do que o Diabo da Cruz. Parece que aos Domingos também havia por lá casalinhos de namorados, escondidos atrás das moitas, misturando sangue português com sangue espanhol. Mas eu naquela idade ainda não era iberista.
Para mim, o talefe era o farol cego dos pesadelos e os olhos da Laurinda as minhas estrelas cadentes.

Os mais velhos, os que já fumavam e iam a bailes, meteram-me na cabeça que a Laurinda não era nem de flores nem de caramelos. Se lhe trouxesse um gambozino da Serra, talvez ela brincasse comigo no palheiro do meu avô.
Dei cabo das canelas e do cu das calças, serra acima com uma saca de estopa na mão. De um lado, as luzes de Ficalho; do outro, as luzes do Rosal. No meio, um coração de calhandra.
Canalha de um cabrão!
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Subi à serra da Adiça
E só parei no talefe
A Lua grande e roliça
Aumentava o tefe-tefe

Levei a saca de estopa
Preparado pra caçar
Faço dela a minha roupa
Se o frio da noite apertar

O teu coração parece
Uma pedra sem destino
Dizem que só amolece
Ao canto de um gambozino

Uns dizem que é fugidio
Os outros que é de má-raça
Tenho de ter algum brio
Para não espantar a caça

As coisas que a gente faz
A dar vazão ao que sente
Já pensava em vir pra trás
Sai-me um vulto pela frente

Abri a boca da saca
Fechei os olhos ao medo
A tua mão não me escapa
Não é tarde nem é cedo

Refrão:
Assim me fiz caçador
Sem espingarda nem “Piloto”
Para ter o teu amor
Para te cair no goto
.
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Música: João Gil

4 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que os gambozinos existem... e os corações de calhandra também...

Lena

llidia disse...

Minha nossa, a quantidade de putos enganados com os gambozinos... esse bichinho malandro!
Eu costumava ser batedora, com a saca nunca fiquei (talvez por ser menina, ainda que andasse sempre com os joelhos esfolados).
Abreijo e até à Alembrança

San disse...

entre nós e qualquer par de olhos brilhantes está sempre a dimensão fantástica do que só existe não sendo.

Ivo Rodrigues disse...

Saudações alentejanas !!!

Linda musica .......
Dedicada à cordilheira da Adiça, onde se inclui a Serra da Ficalho.Haverá problema em fazer uma postagem dedicada ao seu blog ?

Haja saúde !!!