Ela sentou no colo
o seu Livro da Vida
em busca de um consolo, de alguma saída
Deu com a resposta no “I” de iguarias
Juntou condimentos
tirou a baixela
para ter argumentos acendeu uma vela
e esperou o seu amor como todos os dias
Ele soou na escada
à hora do costume
entrou sem dar por nada, sem cheirar o lume
Nem sequer se deu ao trabalho de beijar
Com cara de enterro
esboçou um afecto
Esticou-se na sala, espalhou o esqueleto
Os olhos pelo chão são bolas de bilhar
Ela disse do quanto
havia aguardado
Ele chutou para canto. Disse «estou cansado»
Acabaram deixando tudo sobre a mesa
Ligaram a TV
para um canal qualquer
dos que ninguém vê esteja a dar o que der
Sintonizaram ambos a mesma tristeza
Disseram que já era tarde
sem abrir a boca
Na escuridão cobarde tiraram a roupa
A solidão uniu os dois na sua alcova
Dormiram lado a lado
com o pressuposto:
Achar um culpado que tivesse rosto
Alguém do seu tamanho a quem dar uma sova
Música: Jorge Prendas
6 comentários:
Você consegui definir a Rotina com poesia.
Só mesmo poetas para enxergarem lirismo no cansaço.
Fenomenal João!
abraços
Rossana
Gostei imenso! Irónico q.b. Ao teu jeito...beijos.
Que poema tão despido.
Lindo! Lindo!
Beijo.
Esta canção é um retrato desencantado mas rigoroso de existências cansadas e tristes.
Quanta gente dança esta valsa numa acompanhada solidão que não encontra sequer um culpado com rosto em quem descarregar tanta frustração ...
o outro Poeta iria gostar muito desta tua versão.
e já agora, quem é o culpado? algum, ambos ou a sua condição?
( hoje acordei filósofo militante, há dias...)
João,
Impressionante o que faz com as palavras...
Mais uma vez palmas... em pé !!!
obs: Muito bela a fotografia no título do blog... amei.
Um beijo especial,
Solange
http://eucaliptosnajanela.blogspot.com
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